Da Agência Reuters
Os embates entre governo e Banco Central ganharam novos rounds nesta terça-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou críticas ao nível da taxa básica de juros e defendeu que o Senado se mantenha “vigilante” com Roberto Campos Neto, enquanto o presidente da autarquia destacou a importância da autonomia do banco para a eficiência da política monetária.
“Eu acho que o Senado tem que ficar vigilante. Porque eu lembro quantas críticas recebia da Fiesp toda vez que eu aumentava taxa de juro, eu lembro quantas críticas a gente recebia do movimento sindical quando aumentava a taxa de juro, eu lembro quantos senadores faziam um discurso contra mim pelo aumento da taxa de juro. Agora eles não têm mais que cobrar do presidente da República, eles tem que cobrar dele (Campos Neto). E eles podem. É isso que eu espero”, disse Lula em entrevista a jornalistas.
A fala de Lula foi feita após ele ter sido perguntado diretamente por um jornalista se o governo poderia buscar a exoneração de Campos Neto, citando a lei que dispõe sobre a autonomia do BC, em que há a previsão para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) possa fazer esse pedido. A exoneração teria de ser aprovada então pelo Senado com 41 votos dos 81 senadores.
Para Lula, não é possível voltar a crescer no país com a Selic ao nível atual de 13,75%. O presidente voltou a se referir a Campos Neto como “esse cidadão”, destacando que o presidente do BC tem a possibilidade de pensar sobre como vai cuidar do país porque tem “muita responsabilidade”.
Os comentários de Lula vieram ao mesmo tempo em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esfriava o tom em relação ao BC ao afirmar que considerou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta manhã, “mais amigável”.
“A ata veio melhor do que o comunicado (divulgado pelo BC na última semana), uma ata mais extensa, mais analítica, colocando pontos importantes sobre o trabalho do Ministério da Fazenda, uma ata mais amigável em relação aos próximos passos a serem tomados”, disse o ministro em entrevista a jornalistas.
Na ata, o Banco Central reafirmou preocupação com o quadro das contas públicas, mas fez um aceno ao pacote de medidas fiscais apresentado no mês passado por Haddad.
O BC avaliou que a revisão do arcabouço fiscal do país diminui a visibilidade sobre as contas públicas e impacta as expectativas de inflação, enfatizando que seguirá acompanhando os impactos de estímulos fiscais sobre a atividade e os preços.
Mas o documento também ponderou que membros do Copom notaram que a execução do pacote de medidas apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o risco fiscal e que será importante acompanhar sua implementação.
Na noite de segunda-feira, Haddad havia criticado o comunicado divulgado pelo BC logo após sua decisão de manter a Selic em 13,75% e sinalizar juros altos por mais tempo. O ministro afirmou que a nota do Copom poderia “ser um pouco mais generosa com as medidas que nós já tomamos” e notou que a política fiscal ajuda a política monetária, mas que o contrário também é verdadeiro.
AUTONOMIA
Em evento em Miami, também pela manhã, Campos Neto respondeu a uma pergunta sobre a importância da independência do BC destacando que ela contribui para a eficiência da política monetária.
“A principal razão no caso da autonomia do Banco Central é que desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político, porque eles têm durações diferentes e interesses diferentes. Quanto mais independente você é, mais eficaz você é, menos o país pagará em termos de custo de ineficiência da política monetária”, disse o presidente do BC.
Em meio às críticas da administração petista ao BC, a bancada do PSOL pediu nesta terça a convocação à Câmara de Campos Neto, para que ele preste explicações sobre a política de juros. O pedido de convocação precisa ser aprovado no plenário da Câmara.
O PSOL, que faz parte da base aliada de Lula, informou que os parlamentares do partido também apresentarão nesta semana um projeto de lei para revogar a autonomia do Banco Central.
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